ARMAZÉM SUSTENTÁVEL
O clima já vem sinalizando claramente ao cidadão em diversos momentos que ele está mudando e gerando impactos negativos muito fortes, interferindo em nosso dia a dia sob diversos aspectos: energia elétrica, recursos hídricos, etc. Os mesmos impactos também podem ser percebidos no setor de transporte e logística, quando hidrovias estão interditadas, quando os custos de produção e distribuição são crescentes, além de energia e abastecimento de água.
A nossa experiência sobre o mercado como um todo sempre sinaliza com ações corretivas para atender novos cenários mediante mudanças climáticas. Tínhamos um País Continental com abundância de água através de chuvas regulares e continuadas. Hoje vemos uma matriz energética muito dependente da hidroeletricidade (capacidade dos reservatórios), que estão em níveis alarmantes, e agora, supridas por uma energia cara e não renovável, como as termoelétricas.
Esse é um pequeno cenário que deve servir de exemplo prático para que os empresários do setor se sensibilizem que agua e energia podem ter consumo muito eficiente, formação de reserva de segurança, aplicação de novas tecnologias, como é o caso da água. É somente mais uma frente dentre tantas outras que podem ser gerenciados e orientados por normativas básicas de eficiência energética em movimentação e armazém, gestão de frota, análise de riscos, etc.
Novos armazéns estão sendo construídos com foco em forte sustentabilidade operacional, atendendo normativas que garantem eficiência no uso de diferentes recursos permanentes, como implementação de diversos níveis de armazenamento com sistema verticalizado, redução de consumo de energia elétrica devido a implantação de sistema automatizado, manutenção de temperatura em telhado frio com redução relevante no ambiente interno, reaproveitamento de resíduos sólidos, captação e reaproveitamento de água pluvial para uso interno, resultando em média redução de 40% sobre o consumo mensal, aplicação de piso de menor impacto ambiental e maior resistência, aproveitamento da luminosidade natural para redução de energia elétrica (iluminação), uso de estruturas metálicas galvanizadas que não enferrujam, entre outras.
Determinação de critérios de desempenho para projeto, operação e manutenção de centros de logística e distribuição, contemplam aspectos importantes: implantação; eficiência energética; conforto ambiental; eficiência no consumo de água; especificação de materiais; gestão de resíduos e operação e manutenção.
É necessário que possamos gerar benchmark para consumo de água e energia em centros de logística e distribuição, o qual permitirá estabelecer uma base de medição de consumo, de modo a permitir a comparação da eficiência entre empreendimentos e instalações; identificar oportunidades de melhoria de eficiência e de redução de consumo.
Com dados de monitoramento de consumo de energia e água, é possível determinar critérios de avaliação de edificações do setor e determinar procedimentos e boas práticas de projeto, operação e manutenção. Para identificar as potenciais oportunidades de redução de consumo de energia, é necessário realizar levantamento e análise do uso da energia, considerando: sistemas elétricos, de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado), ar comprimido, motores, vapor, entre outros, para racionalizar o consumo.
A medição e controle da eficiência energética em sistemas prediais logísticos pode ser realizada em caldeiras, uso de energia renovável, compressores, geradores, recuperadores de calor, sistema de aquecimento de água, desempenho dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC), renovação de ar, monitoramento de entrada, etc. monitoramento de ar externo, etc.
Da mesma forma, podemos estabelecer uso racional de água com implantação de frentes práticas: balanço hídrico, submedição e monitoramento, uso de equipamentos eficientes e reuso e reaproveitamento da água.
Já para garantir o controle da qualidade ambiental, recomenda-se realizar inspeção técnica para a verificação da qualidade em ambientes internos, na edificação e em terrenos adjacentes, a fim de determinar suas condições. Para tanto, utilize check-list dos equipamentos em operação, a fim de levantar as condições dos ambientes ocupados, dos sistemas mecânicos e do meio externo. Alguns frentes são essenciais para garantir a qualidade do ambiente interno como manuseio de gases refrigerantes, substituição de equipamentos de refrigeração, inventário de equipamentos, inventários de GEE, adoção de espécies vegetais.
Entre outros temas que devem ser abordados na gestão sustentável de armazéns e demais empreendimentos logísticos (compra e especificação de materiais, conservação e limpeza, gestão de resíduos sólidos, reformas, etc.) não podemos esquecer do impacto da mobilidade na operação. Quando em operação, um empreendimento de logística impacta no fluxo do trânsito da região e na demanda por infraestrutura destinada aos veículos. Dentre os problemas ambientais advindos deste aspecto estão: poluição do ar e da água, emissão de gases poluentes, poluição sonora, congestionamentos, entre outros. Para minimizar esses impactos negativos, algumas estratégias devem ser implementadas: otimização das vagas de garagem, localização do estacionamento e materiais de acabamento, incentivo ao uso do transporte coletivo e do transporte não motorizado, escalonamento nos horários de trabalho.
Não podemos admitir que, grandes armazéns e centros de distribuição sejam construídos atualmente em São Paulo ou no Brasil diante de todo esse cenário de crise hídrica, não esteja contemplado captação de água pluvial para atendimento das demandas internas (lavação do pátio, uso em sanitários, limpeza da frota, etc.), considerando que a taxa de retorno desse investimento é altamente viável pelo custo inicial e pela disponibilidade e garantia de reserva do recurso água em tempos longos de escassez.
Para finalizar, hoje temos muitas ferramentas e tecnologias de gestão para diagnóstico, controle e monitoramento desses indicadores, necessitamos atuar fortemente na mobilização e sensibilização do setor de transporte e logística para que atue com foco em ganhos de eficiência e produtividade, gere maior competitividade diante da atual e crescente pressão sobre as margens de contribuição pelo aumento crescente de recursos (água, energia elétrica e combustíveis), aumento de carga tributária e queda no volume de vendas dos últimos meses. A sustentabilidade deve ser entendida aqui como forma eficiente de economizar recursos, aplicando inteligência e visão integrada ao negócio para reduzir custos fixos e variáveis da operação.
Ricardo Vieira
Vice-Presidente de Sustentabilidade da Abralog
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