”Acredito que elas conheçam os seus riscos, mas não têm a noção do que é risco crítico e o que é risco secundário (que não afetam os fatores críticos de sucesso). Desta forma, dispersam-se os esforços para tratar os principais riscos. Acredito também que as empresas não têm uma exata noção das consequências da concretização destes riscos”, diz Nelson Ricardo Fernandes da Silva, Gerente-geral de Risco da Elog, o braço logístico da Ecorodovias.
"Embora seja considerável o custo de uma gestão de risco robusta, o custo de sua ausência é infinitamente maior. A maioria das empresas não menospreza, elas simplesmente desconhecem. Elas não tem noção que a concretização de determinados riscos pode quebrá-las. Ás vezes os gestores enxergam somente o risco operacional e não são capazes de enxergarem os desdobramentos financeiros, de marca, legais”, revela.
Acompanhe a seguir, entrevista com o especialista Nelson Ricardo Fernandes da Silva
- O que são modelos qualitativos?
Modelos qualitativos são aplicados quando não se tem base de dados, ou seja, não se tem controle do histórico das ocorrências e não dá para utilizar estatística (modelo quantitativo). Isto é um grande problema para os gestores de risco nas empresas brasileiras, pois não temos boas bases de dados nas empresas .
Qual a vantagem dessa metodologia?
A vantagem é que esta metodologia permite conseguir medir os riscos de forma bastante precisa, mesmo sem ter dados suficientes para utilizar ferramentas quantitativas.
- O senhor fala em riscos críticos, eles são os mais graves,os que correm com maior freqüência?
Riscos críticos são aqueles que afetam os fatores fundamentais para o sucesso de uma organização, ou seja, são os riscos que (quando se concretizam) impedem a empresa de cumprir sua missão.
- As empresas do segmento logístico conhecem os seus riscos?
Acredito que conheçam os seus riscos, mas não têm a noção do que é risco crítico e o que é risco secundário (que não afetam os fatores críticos de sucesso). Desta forma, dispersam-se os esforços para tratar os principais riscos. Acredito também que as empresas não têm uma exata noção das conseqüências da concretização destes riscos.
- Quanto se perde hoje por não ter gestão de risco eficiente?
O custo é muito maior do que se imagina, pois temos perdas diretas (que são facilmente perceptíveis) e indiretas (custo de retrabalho, desgaste com o cliente, imagem da empresa etc) Um estudo da Universidade de Manchester avalia que o custo do retrabalho em decorrência de perdas e avarias é algo em torno de 4 à 8% do faturamento da empresa. Acrescentando-se os desgastes de imagem e o custo de reuniões com os clientes é da ordem de 6%. Para alguns riscos específicos, os impactos podem ser catastróficos.
- Qual o impacto que o risco pode ter na gestão de uma marca, ou de um negócio?
Para alguns segmentos, tais como: eletro-eletrônicos e químicos, gestão de risco é crucial. Nestes segmentos o cliente consegue ver facilmente o valor. O segmento automobilístico, que atua no sistema "Just in time" e com estoque mínimo, o risco de interrupção do fluxo logístico é enorme. As cadeias de suprimento globais são propensas a terem flutuações e qualquer risco de interrupção pode gerar conseqüências enormes. A Toyota perdeu share de mercado e teve sua marca arranhada por causa de uma interrupção de fornecimento, causando o desabastecimento de alguns modelos que eram fabricados por um longo período de tempo.
- Qual o custo de uma gestão de risco eficiente? Em que estágio estamos? Muitas empresas menosprezam esse risco?
Embora seja considerável o custo de uma gestão de risco robusta, o custo de sua ausência é infinitamente maior. A maioria das empresas não menospreza, elas simplesmente desconhecem. Elas não tem noção que a concretização de determinados riscos pode quebrá-las. Ás vezes os gestores enxergam somente o risco operacional e não são capazes de enxergarem outros desdobramentos (financeiros, marca, legais etc). Por vezes, a concretização de um risco operacional pode causar um impacto tão grande no fluxo financeiro que pode causar a quebra do negócio. Por este motivo mutualiza-se alguns riscos pela contratação de seguro. O seguro tem duas principais funções: repor a perda e preservar o fluxo de caixa.
- A recessão econômica pela qual passamos pode fazer com que se negligencie os esforços para aquisição ou manutenção de técnicas e conhecimentos de gestão de risco?
Muito provavelmente. Algumas empresas ainda enxergam gestão de risco como custo e não como uma alavanca de valor que pode incrementar vendas e diminuir o custo tangível com perdas e avarias, ou intangíveis com desgaste da imagem ou desgaste com o relacionamento com o cliente. Outro fator é que as empresas brasileiras não têm uma cultura de gestão de risco robusta e bem consolidada. Este tema ainda não faz parte da cultura organizacional nas nossas empresas.