Os 86 principais projetos de logística em discussão na região Sudeste, que representam uma economia potencial de R$ 8,9 bilhões por ano, demandariam R$ 63,2 bilhões em investimentos até 2020 para ser concluídos, conforme estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Atualmente, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo gastam 4,5% do PIB da região por ano com custos de transporte, um total de R$ 108,4 bilhões.
Selecionados entre 337 obras de ampliação e modernização de portos, ferrovias, rodovias e hidrovias, eles se distribuem entre oito grandes eixos logísticos, quatro novos (entre eles a ferrovia que ligaria Grão Mogol (MG) a São Mateus (ES) e a ferrovia MRS e a estrada de Ferro 118, de Suzano (SP) a Vitória (ES) e quatro já existentes.
Quase metade dos investimentos, 48,5%, se concentram no modal ferroviário, aquele com menor infraestrutura instalada. As 32 obras custariam cerca de R$ 30,7 bilhões, o dobro do estimado para os empreendimentos rodoviários (R$ 14,7 bilhões) e portuários (R$ 16,6 bilhões). A ampliação da malha ferroviária, prioridade do "Projeto Sudeste Competitivo", é considerada essencial para ligar de maneira mais eficiente os centros produtores do interior aos respectivos portos para escoamento.
A situação das obras no Sudeste é muito parecida com a de outros dez eixos considerados prioritários das outras quatro regiões, identificados nas pesquisas anteriores. Todos já estiveram em algum plano governamental, muitos têm obras iniciadas, mas não conseguem ficar prontos.
Segundo o estudo, apenas 16 das 86 obras prioritárias já estão em andamento; as outras 70 nem começaram a etapa inicial de elaboração do projeto básico. A entidade considera "urgente" a realização das obras, sob o risco de expansão dos trechos congestionados hoje presentes na BR116 e no trecho Bela VistaBelo Horizonte da BR262, por exemplo e consequente aumento de custos de transporte.
Conforme o gerente-executivo de Infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso, os dados da pesquisa serão discutidos nos próximos dias com integrantes do governo federal. A ideia é que o mapeamento sirva de subsídio para a definição de políticas governamentais na região. Para Cardoso, o cenário atual, de crise econômica e redução de investimentos, exige ainda mais planejamento para que as obras efetivamente saiam do papel. "Nessa hora, você tem que pensar mais no futuro, para quando sair da crise ter um planejamento bem feito”, defende. O gerente-executivo de Infraestrutura da CNI acredita que a saída para viabilizar os investimentos passa pela maior participação da iniciativa privada nos projetos, por meio de concessões. "Lógico que agora está tudo mais difícil, mas tem demanda [para as concessões]”, pondera.
AS GRANDES ECONOMIAS
√ Considerada como a "jóia da coroa” da infraestrutura do País pelo gerente-executivo da CNI, Wagner Cardoso, a ligação entre Mato Grosso e o Pará pela BR-163, é dos projetos com maior potencial de redução de custos (R$ 2,2 bilhões/ano), já que poderia levar cargas do agronegócio ao Norte e trazer cargas industriais em direção ao Sul, algo raro num eixo logístico. "Quando ficar pronto, muda tudo no Brasil. Estamos apostando que sai, mesmo com esse céu que não é de brigadeiro", diz Cardoso, que acredita no fim das obras da rodovia até 2018.
√ Outro projeto considerado por ele de grande valor seria a reforma dos portos do Nordeste para que eles possam ampliar o transporte de cargas entre as capitais pelo mar, a cabotagem. Mas, segundo ele, os projetos previstos pelo governo de ampliar os terminais, que são operados pela iniciativa privada, não vão dar grandes resultados se empresas que administram os portos, chamadas companhias Docas, não forem privatizadas. "Porto é como shopping. O que adianta ter uma loja linda, que é o terminal, se o administrador do shopping, que é a Companhia Docas, não faz propaganda, estacionamento, deixa a loja sem luz?"
√ Economia grande também, de R$ 372 milhões/ano, seriam a duplicação da ferrovia que liga Mato Grosso ao porto de Santos (SP) e o aumento da capacidade de receber navios desse porto. Todas essas obras estão sendo realizadas, mas ainda longe de ficarem como prevê o estudo.
√ Das obras consideradas, a grande maioria consta há ao menos uma década nos planos do governo, mas a execução patina na falta de recursos e de planejamento e na burocracia.
√ O caso da rodovia Presidente Dutra é emblemático. Na concessão, realizada em 1996, havia a previsão de construção de uma nova pista na serra das Araras (RJ) num trecho sinuoso em que caminhões de grande porte têm dificuldade para trafegar. A obra não foi feita e há ao menos quatro anos o governo e a concessionária negociam uma forma de fazer a nova pista. Em agosto, foi anunciada como projeto do PIL 2 (Programa de Investimento em Logística), mas só deve começar em 2016. A nova pista da Dutra, aliada a outras grandes obras já em andamento, como a duplicação da serra do Cafezal, na Régis Bittencourt (SP), e o Rodoanel Norte (SP), teriam o potencial de reduzir os custos de transportes para as empresas em R$ 716 milhões por ano no início da próxima década.
√ A Via Dutra, em São Paulo, opera com quase duas vezes a capacidade em múltiplos trechos da rodovia, sobrecarga também existente no trajeto da BR-262 entre Bela Vista e Belo Horizonte (MG), que recebe 32% mais carga do que comporta em horários de pico.
√ Após levantamento em quatro regiões, o trabalho relativo ao Sudeste aponta que o investimento em oito grandes eixos de transporte levaria em 2020 a uma redução de custos de transportes de cerca de R$ 10 bilhões/ano (5% dos gastos previstos).
√ Os oito eixos logísticos considerados prioritários no Sudeste:
Existentes
- BR-153 Sul: Goiás via Ourinhos (SP)
- Ferrovia ALL: Mato Grosso - Santos (SP)
- BR-050: Brasília (DF) - Santos (SP)
- BR-116 Sul-Nordeste: Via Dutra e Rio de Janeiro
Novos
- Ferrovia EF 354: Anápolis (GO) - Ipatinga (MG) - Açu/Central (RJ)
- Mineroduto Ferro: Morro do Pilar (MG) - Naque (MG) - Linhares (ES)
- Ferrovia: Grão Mogol (MG) - São Mateus (ES)
- Ferrovia MRS e Estrada de Ferro 118: Suzano (SP) - Vitória (ES)
VEJA A ÍNTEGRA DO ESTUDO
FONTE: G1, FOLHA DE S. PAULO E VALOR ECONÔMICO