CODESP FECHA O ANO NO VERDE
Há dois anos à frente da Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp), José Alex Botelho de Oliva têm provocado uma revolução silenciosa no
Porto de Santos. Nesse período, modernizou a gestão portuária, reduziu os
custos com folha de pagamento, atendeu a demandas antigas dos moradores da
Baixada, acabou com as filas de caminhões no sistema rodoviário
Anchieta-Imigrantes e fez a empresa fechar no azul – a primeira vez em cinco
anos. Para isso, teve de enfrentar o principal inimigo do Porto: o corporativismo
do funcionalismo público. "Ando armado, de carro blindado e com guarda-costas”,
revelou o executivo em palestra realizada na Associação Comercial de São Paulo
(ACSP) para apresentar, em primeira mão, os resultados de 2017 da empresa.
Em evento organizado pelo Comitê dos Usuários de Portos e Aeroportos
(COMUS) da ACSP, Oliva afirmou que foi preciso quebrar paradigmas para
implantar uma nova gestão no Porto de Santos, um local onde produtividade e
eficiência sempre estiveram jogadas em alto mar.
Ao assumir a Codesp, em 9 de novembro de 2015, a primeira medida de
Oliva foi se reunir com as equipes de operação e logística do Porto. O Plano
Safra já havia sido posto em prática, mas "ajustes finos”, nas palavras dele,
precisavam ser feitos. "Dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Se tem caminhão, não pode ter
trem. Se tem trem, não pode ter caminhão. O que precisa ter é navio atracado e
armazém cheio de mercadorias para fazer a operação terra-bordo, bordo-terra.
Foi o que acertamos com a equipe e passamos a perseguir isso”, comentou em
relação às famosas imagens de caminhões parados ao longo das rodovias para
entrar na área portuária.
TECNOLOGIA
A Codesp adotou um sistema de monitoramento e logística, em parceria com
Antaq e ANTT, e passaram a monitorar os caminhões desde a saída das fazendas.
Ao passar pelo primeiro posto de pedágio, a placa é capturada pelo
centro de controle, colocando o veículo numa pré-fila para sequenciar todas as
chegadas – antes mesmo do pedido de agendamento. "E tivemos que ter a coragem
de instituir regramentos mais duros. Quem furasse a fila, era barrado e voltava
para o final, esperando 24, 48 horas para aprender. Nós disciplinamos o
processo. ”Como resultado, em 2016 não houve registros de congestionamentos no
Porto de Santos. Em 2017, também não.
Os sistemas usados pela Codesp atualmente são o Portolog e o SGTC, mas a
intenção é que em breve eles sejam migrados para uma única plataforma.
O motivo é simples: se no ano em que Oliva assumiu o Porto de Santos
movimentou 119,6 milhões de toneladas, em 2017 esse número passou para 129,9
milhões. Janeiro deste ano já foi o melhor da história, com um fluxo de cargas
equivalente a 8,99 milhões de toneladas."Vamos ter um 2018 melhor”, projeta Oliva, lembrando que alguns terminais
começam a operar neste ano. "Isso significa aumento de movimentação, aumento de
logística, aumento de trabalho.”
HIDROVIA
Outra medida logística foi a conclusão, em fevereiro, da Hidrovia do
Porto de Santos, que já está pronta para entrar em operação. "Só precisa virar
a chave”, diz.
A hidrovia é uma demanda antiga dos usuários e será operada
integralmente pela iniciativa privada. As regras para as empresas se
cadastrarem como operadoras de transporte hidroviário em Santos serão
publicadas na semana que vem.
A expectativa é de que, em 2018, a hidrovia movimente 300 mil
contêineres – o que, em outras palavras, significa 300 mil caminhões a menos
nas estradas da Baixada Santista.
CHOQUE DE GESTÃO
Como em qualquer empresa, os aumentos de performance financeira da
Codesp não vieram com base na sorte. Uma das primeiras medidas administrativas
foi a mudança do horário do Porto, que passou a operar em turnos de seis horas.
Com isso, houve uma redução de 18,5% para 7,33% no peso das horas extra na
folha de pagamento da companhia. A meta é chegar a algo em torno de 2,5%.
Mas se administrar pessoal parece ser algo trivial na maioria das
empresas, a Codesp – que embora seja de natureza mista é praticamente toda da
União – é um caso à parte."Achavam que o Porto de Santos era uma empresa pública federal em que
ninguém podia ser demitido”. Não podia. Porque na gestão de Oliva, somente em
2017, foram 131 desligamentos – ou R$ 36 milhões a menos de despesas.
Alguns fizeram acordo. Outros, porém, saíram por justa causa. Um dos
funcionários, por exemplo, havia apresentado 58 atestados médicos no período de
dois anos. Em outro caso, uma dupla de guardas usou as viaturas da companhia
para transportar 32 quilos de entorpecentes. Os relatos são daí para cima em
nível de gravidade.
Durante uma reunião da diretoria, um superintendente reclamou da
obsessão do presidente por sanar as contas da Codesp, alegando que empresa
pública não foi feita para dar lucro. Foi Oliva ouvir a declaração e, no dia
seguinte, o superintendente – com 12 anos de casa – estava exonerado. "É
empresa pública, sim, mas regida por CLT. Tem que dar lucro”, defende ele, que
é o ocupante mais longevo entre os cinco últimos que passaram pela presidência
do complexo portuário.
E dá para entender o motivo de sua permanência no comando. Se em 2016 a
Codesp faturou R$ 797 milhões e teve prejuízo de R$ 22 milhões, em 2017 o
faturamento chegou a R$ 911 mi, gerando um lucro de R$ 44 mi. É o primeiro
lucro em cinco anos da empresa, que finalmente renderá dividendos aos acionistas.
O balanço havia sido assinado pela diretoria poucas horas antes da reunião do
COMUS e será publicado semana que vem no Diário da União. "O Porto de Santos tem um timão, e nesse timão tem um comandante. Não
vamos retroagir por ninguém”.
VISITAS TÉCNICAS
Para José Cândido de Almeida Senna, coordenador do COMUS/ACSP, as
medidas tomadas por Oliva são importantes para fazer do maior porto brasileiro
o melhor porto brasileiro.Contudo, alerta para o rápido crescimento no fluxo de cargas do complexo,
o que exigirá, mais do que boa vontade da Codesp ou de qualquer outro ente
público, investimento da iniciativa privada."A dragagem não deve ficar na mão do Estado. Já estão faltando recursos.
O Estado está falindo. Já em 2020 podemos ter uma grave crise”, diz Senna.
Fonte: Associação Comercial de São Paulo
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